
Eu me olho no espelho e tenho dúvidas sobre o que vejo.
Sou uma inconstância cheia de medos.
Coloco em mim uma máscara de sobriedade, mas não passa de mentiras manipuladas.
Falo sobre liberdade, mas me encontro presa em navios que nunca partiram.
Não me encontro dentro de mim,
e nem enxergo alguém que gostaria de ver.
Não me vejo com as lentes de quem me ama,
mas insisto em me enxergar com as lentes de quem me odeia.
Não consigo me ver por completo
em todas as ocasiões em que meu coração apertado demais bateu forte demais —
de um jeito que nem consigo explicar.
É como se, a todo instante, ele apanhasse mais um pouco.
Mas não de fora.
Apanha de dentro.
Apanha de quem deveria amá-lo mais do que todos.
A face que vejo no espelho não é a que eu queria ter.
Não é o nariz, nem o cabelo, muito menos os olhos.
Não era para ser assim.
Era para ser como a outra — e não como eu.
Era para me refazer de mim e me montar nela.
Porque é ela que todos querem,
é ela que está certa,
é ela que tem a melhor versão.
Essa aqui pode jogar fora. O lixeiro logo, logo vai passar.
“Nem tudo são flores”, disseram.
Mas ninguém me avisou que seriam só pedregulhos pelo caminho.
Será que um dia eu vou ganhar um buquê de rosas numa noite de surpresa?
Eu valho um buquê de flores?
Eu queria sentir mais do que sinto.
Queria pular, me apaixonar,
sentir borboletas no estômago…
Mas a rotina me dominou
e a admiração se esvaziou.
Escrevo sobre sentimentos, mas deixei de senti-los.
Sem paixão, aonde vamos parar?
É fato: eu não me enxergo mais.
Não me vejo no reflexo do espelho que se perdeu lá dentro,
num olhar vazio e sem vida —
ouso dizer que, às vezes, até sem alma.
O que me sustentava virou pesadelo,
e os sonhos morreram numa noite ruim.
Eu queria… ah, como eu queria.
Mas o universo veio me avisar:
aquilo, bom… aquilo não era pra mim.
Mas eu devia agradecer.
Tenho tudo o que muitos gostariam de ter.
“Tive sorte”, também me sussurram.
Mas que sorte é essa?
Procuro o trevo de quatro folhas que insistem em dizer que encontrei.
Visto calças apertadas dentro da casa que me sufoca.
Me responsabilizo por tudo —
e talvez, de fato, seja eu a responsável por cada erro em que me encontro.
O desespero me trouxe até aqui.
E, no fim, o sonho virou pesadelo.
Eu já não me enxergo mais no espelho.
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