
Naquela noite, nós brigamos. Uma briga boba, a mesma coisa de sempre. O dia a dia nos afogando em suas obrigações momentâneas.
Fui dormir com raiva, mas você não deixou. Insistiu que fizéssemos as pazes, pois, segundo você, nunca poderíamos dormir brigados. Não importava a hora: precisávamos resolver qualquer coisa antes de levar para a cama. Eu fazia birra, afinal, era uma criança mimada que não entendia a vida adulta, muito menos as obrigações de uma mulher casada. Eu era orgulhosa. Não queria conversar, não queria falar. Só queria fazer um bico do tamanho do mundo e mostrar a você minha insatisfação, o porquê de não querer estar ali, de não querer conversar. Só queria exercer meu direito de ficar com raiva, e pronto. Mas, claro, você não entendeu. Você precisava resolver, e por fim resolvemos. E aqui estamos, deitados na cama, com o problema “resolvido”.
Mas, no peito, ainda havia uma raiva boba e idiota, a de uma criança mimada vencida pelo orgulho. Virei de lado e deixei que algumas lágrimas molhassem meu rosto, revelando meu medo de que nós dois fôssemos um erro. Mas agora eu não podia voltar atrás!
E foi justamente naquele dia fatídico que sonhei com você. Mesmo com você deitado ao meu lado, eu sonhei com você.
No sonho, eu sentia novamente seu corpo sobre o meu, de forma suave. Sentia seu cheiro inconfundível, que tanto me agrada. Mas, do nada, você sumia. Não existia mais você. Ninguém mais sabia da sua existência. E eu ficava ali, sozinha, com a lembrança da sua presença. Mais uma vez, eu me via sozinha no mundo, sem essa alma amiga que encontrei em você. Me via sem a quentura do seu corpo, sem seu cheiro grudado na minha pele, sem suas piadas idiotas que me fazem rir. No sonho, eu perguntava por você a todas as pessoas que passavam por mim, mas nenhuma delas sabia da sua existência. Nenhuma delas teve o privilégio de conhecer você e sua alma doce, mesmo que, às vezes, não pareça.
E naquele sonho cinza, eu me pus a chorar. Imaginar o mundo sem você já não tem mais graça. Imaginar minha vida sem a sua já não me agrada. Chorei tanto que todas as minhas lágrimas ficaram naquele sonho… e se transportaram para o mundo real. E, nesse mundo real, eu senti seu abraço apertado, me confortando e dizendo que estava tudo bem.
Então, te abracei. Senti novamente a quentura do seu corpo e o seu cheiro tão seu. Os pelos do seu corpo me tocando e eu sentindo que você estava aqui. Que privilegiada eu sou por viver em um mundo em que você está. Que privilegiada eu sou por poder te abraçar de madrugada depois de um sonho ruim.
Eu te abracei apertado, e, dentro daquele abraço, sumiu qualquer mágoa que eu tinha, qualquer dúvida sobre ter feito ou não a escolha certa. Independente dos seus defeitos, o meu mundo fica muito melhor com você nele. Então, por favor, nunca saia dele.







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