
Dizem por aí que dinheiro não compra felicidade. Fácil falar quando se tem o bolso forrado. Porque o dinheiro compra sonhos, compra comida, compra dignidade: ele paga a passagem até o trabalho, a fralda do bebê, o remédio que salva uma noite de dor.
Quem repete o velho mantra não entendeu ou prefere fingir que não vê que habitamos um planeta convertido em shopping center, onde a divindade máxima é o cifrão. No altar do capitalismo, tudo se negocia: do tempo livre ao futuro dos nossos filhos. E nós, rezando por migalhas, aprendemos que “viver” é verbo de luxo; sobra-nos apenas “sobreviver”.
Não sobra dinheiro para sonhar, investir, estudar. Cada salário evapora no aluguel, na conta de luz, no gás, em mais um carrinho de supermercado que encolhe a cada mês. Nascemos na periferia e, quando ousamos subir um único degrau pela força dos estudos, a vida nos esfrega na cara sua crueldade: os maus ganham mais, os maus sorriem primeiro. Justiça? Só na eternidade, pois aqui, quem manda é a nota de cem.
Trabalhamos até a exaustão, estudamos de madrugada, fazemos malabarismo com boletos. Basta uma emergência, um dente quebrado, um exame de urgência para o castelo de cartas ruir de novo. Aos 30, sonhávamos com estabilidade; aos 33, hesitamos diante de um shampoo, fazendo contas para não estourar o fim do mês.
Dizem que o perrengue é “coisa de Brasil”. Mas que escolha é essa? Ser imigrante e trocar uma exploração por outra, e com a saudade incluída no preço? A verdade nua e crua é que o sistema foi armado para que muitos sirvam aos poucos. E enquanto insistirem que “dinheiro não traz felicidade”, continuarão a justificar um modelo que rouba da maioria o direito ao riso e ainda os convence de que não faz falta.
Este é o nosso grito: não queremos luxo, mas queremos vida. Queremos o básico sem humilhação, tempo para respirar, chance de sonhar sem medo de acordar quebrados. Se dinheiro não compra felicidade, que ao menos nos devolvam a possibilidade de buscá-la sem sangrar.
E a pergunta que fica é: que vida darei aos meus filhos? Que mundo deixarei para eles, se o que recebi foi cansaço e escassez? O que me resta, senão continuar lutando, mesmo exausta, para que a próxima geração não precise apenas sobreviver, mas possa, enfim, viver?
Que meus filhos tenham o direito de sonhar sem medo. Que não precisem escolher entre comer e estudar, entre cuidar da saúde e pagar o aluguel. Que eles herdem, se não riquezas, ao menos a coragem de romper esse ciclo. Porque se hoje sangro em silêncio, que ao menos esse sangue regue um amanhã mais justo.







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