
Se você já leu Dom Casmurro, de Machado de Assis, provavelmente já se deparou com a famosa pergunta: Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Essa dúvida paira sobre gerações de leitores e ainda movimenta debates acalorados nas salas de aula e nas redes sociais.
Mas se sua única experiência com esse livro foi lá no ensino médio, por obrigação da professora, aqui vai um conselho: leia novamente agora, na vida adulta. Você vai se surpreender com o que vai encontrar. A leitura amadurecida revela camadas que talvez tenham passado despercebidas anos atrás.
Machado de Assis e sua genialidade irônica
Dom Casmurro é uma das obras-primas de Machado de Assis, um autor que sabia como poucos brincar com a mente do leitor. Aqui, somos conduzidos pela voz de Bentinho (ou Dom Casmurro), um narrador extremamente subjetivo, ressentido e sem dúvida, nada confiável.
Com ironia fina, frases ambíguas e uma escrita envolvente, Machado cria um jogo psicológico em que tudo é colocado em xeque. O leitor, ao invés de apenas acompanhar a história, é desafiado a interpretá-la e desconfiar de tudo.
A narrativa acompanha a vida de Bento Santiago desde a infância até a velhice. Desde pequeno, ele convive com Capitu, sua vizinha de “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. O romance entre os dois nasce cedo, mas enfrenta um obstáculo: a promessa de sua mãe de que Bentinho seria padre.
A solução? Um acordo em que outro jovem é enviado ao seminário no lugar dele. Livre da promessa, Bentinho passa a viver seu amor por Capitu mas não sem desconfiança.
É aí que surge o ponto central da obra: o ciúme doentio de Bentinho. Em vários trechos, ele expressa pensamentos violentos, insinuando até o desejo de matar Capitu. Essas passagens revelam um personagem emocionalmente instável, o que levanta uma questão crucial: será que podemos confiar em tudo que ele diz?
Capitu traiu ou não traiu? Eis a questão… ou não?
Machado de Assis nos convida a refletir sobre a natureza da verdade e da memória. A famosa traição de Capitu pode ter sido apenas fruto da obsessão de Bentinho. Ou não. O autor não nos dá respostas prontas e é justamente isso que torna o livro tão fascinante.
Ao reler Dom Casmurro na fase adulta, você vai perceber como cada palavra, cada silêncio, cada ambiguidade tem um propósito. Vai entender que o foco talvez nem seja descobrir se houve ou não traição, mas sim perceber como construímos (e distorcemos) as nossas próprias versões da realidade.
A dúvida é a resposta
Dom Casmurro não é um livro para ser lido apenas uma vez. Cada nova leitura revela uma camada diferente e provoca novas perguntas. A grande sacada de Machado de Assis está justamente em não dar certezas, mas deixar o leitor desconfortável, reflexivo e, muitas vezes, dividido.
Então, que tal reler esse clássico com um olhar mais maduro? Capitu pode ter ou não traído, mas uma coisa é certa: você nunca mais verá essa história da mesma forma.







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