
No trem lotado, a vida escorre em pequenas cenas que se atropelam umas nas outras. É como se cada vagão fosse um shopping de emoções, vendendo de tudo. E vamos confessar, muitas vezes, com campanhas melhores que muito publicitário formado.
De um lado, a mulher que conversa no celular como se estivesse na sala de casa, compartilhando intimidades sem se importar com os ouvidos alheios. Do outro, o sujeito que exala um cheiro de séculos sem banho ou, pior ainda, aquele que tenta disfarçar a preguiça com um perfume tão forte que chega a atacar até quem nunca sofreu de rinite.
Entre uma porta que se abre e outra que fecha, surgem mais personagens: o casal que troca olhares apaixonados, a senhora de semblante azedo, o reclamão profissional. O adolescente com fones de ouvido altos o suficiente para o vagão inteiro ser plateia involuntária da sua playlist musical. E, competindo com ele, o funkeiro orgulhoso que dispensa fones de ouvidos e prefere compartilhar seu gosto musical como se fosse um presente ao mundo.
A cada estação, o cenário muda. Um desce sorrindo, outro sobe cabisbaixo, alguns carregam pressa, outros até lágrimas. O trem vai misturando histórias que nunca se encontram, mas que se encostam por alguns minutos.
E no meio desse caos sobre trilhos, há você. Que observa tudo com poesia nos olhos, transformando barulho, suor e multidão em crônica.







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